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Dias de dilúvio
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Eduardo Costa de Mancilha traz em sua obra Dias de Dilúvio devaneios curtos com reflexões intensas sobre a vida, a rotina e, principalmente, sobre o existir. Neste livro, é visto que o olhar que direcionamos as pequenas coisas da vida que define quem escolhemos ser.Há um pedaço de março em mim, e nele habita um olhar denso, desastroso e contínuo. Escorre pelas paredes como uma sensação de amanhã dançando na ponta da língua. Como um arado eterno, ele se vai a passos arrastados. Não de astronauta, e sim de caçador de rãs. O preparo da gula molhando os lábios e adocicando os dedos de óleo. Respiro diamantes nas minhas buscas. Me achego vulto diante da besta fera para não acorda - lá. Sinto seu bafo e é tão quente quanto todas primaveras que engoli. Mãos feridas com mil farpas consagrando o cansaço. Viva março, as crianças raladas delirando no terraço que caiu sem avisar. Labor corando as testas vivíssimas. Março é ferro, gosto ocre. Tintilar no metal pesado. Locomotiva a pleno pulmões, urrando e estalando o novo. Lua de março, forte, doida e doída. Me ponho bruxo frente a ela. Fases bravias e conquistadoras. O peito sangrando, e o vermelho correndo na penugem guerreia. Feito maço amassado no bolso da camisa aliviando os parentes perdidos. Despedida é um exercício ardo. Fecho as janelas e sopro o pó, respiro elétrico enquanto o sol a pino me presenteia com sua tontura. Março ainda não é fruta, nem feira explodindo de sabor e cheiro, mas é suor, o labor da taipas estalando. Estalo crescendo indistinto, enquanto retorço ao futuro. Esperança de ver os primeiros brotos em Abril.
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