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O ano inteiro, o outro ano e o outro
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Coerindo com o percurso iniciado em Transdialogia (2012, Oficina Raquel) e Segundo Movimento (2014, OR), Fernando Miranda nos apresenta aqui uma escrita essencialmente anti-monumental. O autor não escreve pièces d’occasion, mas poemas ocasionados – seja por encontros em carne-e-osso, seja mediados; próximos, ou à distância. Que o leitor não teime, apressado, em tomá-los por eventualidades: se seus escritos, não excluindo daí os contos de Daquilo que Edifica (Substânsia, 2015), têm nascedouro perplexo na experiência da contingência, daquilo, isto é, que poderia ter sido de outra maneira, eles também extraem daquela origem, qual feto faminto, o opulento viço de uma práxis pessoal. O escritor romântico alemão Jean Paul dizia que livros são cartas espessas endereçadas a amigos; todos os detalhes, as impressões, memórias ou reflexões trabalhadas nos versos e nas notas de diário em O ano inteiro, o outro ano, e o outro são dirigidas nominalmente a alguém. O leitor é, assim, inundado por mensagens que devem ser desarraigadas do solo experiencial que lhes serve de contextura e que, em seu conjunto, tramam a urdidura poética de uma vida que se sabe nem maior, nem menor, que a poesia, mas uma coisa sem nome nem medida. Daí que o interesse específico que suscita a leitura destes poemas não resulta (ainda bem!) dos detalhes da biografia do autor, mas sim de sua relação tensional com o fortuito, o contingente, o permanente e o necessário. Tensão constitutiva – como escreve o autor em O homem, peça-chave do livro, De cá fica./De cá nada resta –, a partir da qual o autor busca captar, em versos cuidadosamente construídos com uma sintaxe não raro oblíqua, aquilo que faz da vida a vida.Texto de Nelson Shuchmacher Endebo
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