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Ritmos negros
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Os negros inventaram sua própria narrativa histórica avessa à modernidade hegemônica. Reside aí, sua experiência histórica inédita e particular. Forjada desde arte do corpo, religião, música, dança, teatro, imprensa, cinema, literatura e artes plásticas. Foi com a arte que uma política negra irrompeu uma poderosa maneira de reimaginar o mundo. Seus atores criativos, leia-se, os artistas, se inserem, naquilo que parecer ser o modo como os povos colonizados que irrompem na contemporaneidade necessitam construir sua modernidade à força, e cabe às artes em geral... a função essencial na propulsão do imaginário utópico de suas coletividades. As artes negras e em particular a música, se transformaram no texto mais poderoso de afirmação de memória, autorepresentação e narrativas históricas. Os textos aqui dispostos neste livro abordam expressões musicais no circuito África/Caribe/Brasil. Paul Gilroy evidenciou como o navio foi o meio de comunicação e interlocução entre os africanos que viveram o trânsito e o tráfico escravista no primeiro fluxo da diáspora, entre os séculos XVI e XIX. Por um lado, sua memória guarda uma experiência traumática de destruição e morte, por outro, paradoxalmente, possibilitou o renascimento e a reinvenção das Áfricas no circuito Atlântico. Se, ontem, o navio serviu como elo de comunicação, o disco, no contexto da cultura de massa, se transformou em outro meio de diálogo entre as diásporas negras das Américas. Com o disco os músicos puderam preservar valores, saberes e fazeres; refazer memórias; recompor projetos. Através dele, uma rede multidirecional e giratória de informações rítmicas, melódicas, culturais e políticas se constituiu no mundo contemporâneo.
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