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Escrever, enfim, para o modelo de poeta que se concretiza nos poemas aqui reunidos, é um rito ancestral sempre renovado, sendo este um ditame que em apenas um escasso grupo de poetas se manifesta na sua condição de cifra – isto é, quer cifragem, quer deciframento – em que o absoluto singular da experiência sensível e intelectual muito importa para o universal: não porque ao universal se subsuma, mas porque, incorporando-o, o emana. Esta cifra tem vários nomes no livro de Jussara Salazar, mas o nome que a todos atrela é aquele que dá título ao conjunto: Fia. Declinação verbal – muito genericamente, a poesia como acção –, tanto pode ser conjugação do ‘fiar’ da lavoura de fiação – num livro que é, justamente, dedicado a rendeiras pernambucanas de Gravatá do Gomes, e que amplamente explora lexemas e semas do artesanato têxtil –; como pode ser injunção fiduciária – ‘confiar’ no mundo, ‘confiar’ na arte; por exemplo: ‘confiar’ à leitura este livro de poemas –; como pode, ainda, com alguma licença poética, funcionar como variante diatópica de ‘filha’ – no fundo, refração e síntese de uma poesia cujo trabalho da analogia dimana de um anacrónico ‘universo feminino’, um mundo de ‘filhas’, cujas figurações múltiples (das ‘moiras’ às ‘fiandeiras’) vão fazendo vibrar, sem os constrangimentos de uma doutrina ou militância, o diapasão do poema.
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