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Caderno poético - flor, corpo e raiz
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Apesar das agruras da pandemia, evocada qual mote, a vida não fora contexto para este Caderno poético. Fora talvez pre-texto pra arte, manha. Um chamado a se despir. E a naturalidade com que se despe revela nossa fragilidade moral para enxergar as próprias vergonhas desnudas. Sua língua desenvolta lambe palavrosa a fenda ferida. Fera radical, fareja e dilacera na origem a promessa da semente. Na pele virgem de amor, quem poderá macerar seus espinhos? Do desamparo esgueira uma fé menina, tenra, jovial e triste. A moenda do tempo esconde os seus desígnios. Por outra, uma fé menina não tem medo nem juízo. Escapa viçosa, a pouco e pouco, para vez mais enternecer aquela fera, amiga das horas, prima-irmã do Tempo. Existe em estado de aranha, não se deixa ver nítida. Ora se mostra, ora se esconde. Desliza vulnerável em um véu de teias. Conquista e devora. No grão da palavra soa gostosa e a gente se entrega ao mastro. E chama por Nana, e mergulha sem hesitar no profundo leito do silêncio onde tudo repousa sabido. Caderno poético, corpo enraizado no Mistério, semeadura de morte e vida. E tanta vida. Sobre a autora: Cidiane é uma carioca com ascendência mineira, precisamente da roça da imaginação de sua mãe, e com desejos de transcendência em Salvador. É uma brasileira profundamente ligada às origens e aos trânsitos nesse país experimentado a partir de sua história, de sua capacidade de sentir e de colocar em palavras o que vivencia. Essa é sua viagem inaugural no compartilhamento de suas palavras escritas, reunidas neste caderninho azul, como gosta de nomear. Veremos aqui uma mulher em sua negritude mestiça buscando exercer a tessitura de palavras sobre si mesma, fiadas e afiançadas a partir dos encontros com seus pares, suas origens, seus amores e suas dores. É também psicóloga e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).
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