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O som cardiaco com que me vive o silencio
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Há séculos perguntam-se aos poetas: para que serve a poesia? Muitos já responderam essa questão em entrevistas e não atribuem à poesia noções de utilidade. Outros, nunca a responderam, atendo-se ao seu ofício: escrever seus poemas sem se preocuparem que dizer ou comunicar é um incidente ocasional do poema. Um poeta não diz propriamente coisas; atribui uma luz nova no que a língua não ilumina. A palavra no poema é uma iluminura. Mas a poesia também não é um lugar da memória. É um corpo vivo que inventa a sua própria memória, agarra-se a um próprio tempo, contado nos versos. O tempo no poema é a sua própria duração. De certa maneira, não faz sentido falar sobre poesia. Não se responde uma pergunta dessas para entender o porquê de alguém ser poeta, ou se só alguns poderiam sê-lo. Rute Castro sabe que a poesia é mais fiel aos sonhos, no sentido da possibilidade da desordem, mas que essa aparente desordem é, afinal de contas, outra linguagem feita do que se não mostra. Para ela, não é o entendimento o que nos torna mais próximos, talvez seja a poesia a respiração do que nos aproxima, quando derrubamos a aparente ordem das coisas para criarmos formas íntimas de dar uma cor mais fiel ao nosso sangue, desequilibrando as urgências da vida e percebermos a nós mesmos dentro dos olhos do Outro. O silêncio torna-se assim numa voz forte; células juntando um novo corpo, traduzido no som que cresce na terra de cada poema.
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