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O Insondável Corpo na Ética
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Embora em determinados momentos históricos o corpo não tenha sido completamente negado, a repressão persistiu, insidiosa, ardilosa ou explícita, mas sempre contraproducente, na medida em que costuma provocar explosões ou duplicidade moral (Paz, 2017, p. 250). A lógica da denegação é esta: quanto mais nega algo, mais revela. Esse revelar não vem como uma libertação, mas entrelaçado no ardil que, incapaz de enfrentar a força ambígua do corpo, sua vitalidade radiante, sua presença inexpugnável, cai na sedução de uma ética idealizada e abstrata, na manipulação da biopolítica, na violência racista, na repressão das paixões, no aprisionamento das sensações, no enclausuramento da vida, todos sintomas da negação ou da má interpretação do corpo. Um ardil que torna inacessível o saber do corpo e dos afetos, pois impede a recomendação de Espinosa de que quanto mais conhecemos nossas afecções mais somos capazes de realizar ações éticas adequadas. Nietzsche também mostrou de forma lúcida as consequências destrutivas da má interpretação do corpo. E ainda podemos lembrar que é esse mesmo ardil que reduz o corpo ao meramente fisiológico, numa insistência em aliená-lo de qualquer sentimento mais elevado, gerando profundos equívocos impeditivos de qualquer ideia de bem viver. Minha intenção foi quebrar o silêncio da relação entre corpo e ética, evidenciar as implicações de tal negação e ousar uma amplitude maior ao objeto da ética, pois a tarefa da filosofia moral é também libertar o pensamento de seus aprisionamentos.
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